Número total de visualizações de páginas

quarta-feira, 1 de abril de 2020

Uma estratégia para Portugal na luta contra a COVID-19

Boa noite, 
             No artigo de hoje é nos trazido uma análise estratégica de como Portugal deverá atuar e comportar-se na guerra contra o novo coronavírus. É nos trazida pelo Miguel Carvalho, um dos convidados para o blog dar o próximo passo. Esperemos que gostem e partilhem! Muito obrigado.                                               
            
             Este recente surto pandémico tem tudo para ser um dos maiores desafios enfrentados pela sociedade portuguesa nas últimas décadas. Assistir-se-á, seguramente, a uma forte comoção social e a uma reestruturação da vida política portuguesa. O que está em jogo, em causa é o nosso modo de levar a vida, numa sociedade moderna , desenvolvida, pluricultural e democrática. Portugal está em guerra. Em guerra contra um inimigo perigoso,  invisível mas que, não obstante a sua invisibilidade, colocará a prova, de maneira bem visível, os destinos de uma sociedade, de um povo, de uma nação.

Como em qualquer guerra, a definição de uma estratégia é fundamental para o triunfo final. 
             Qualquer estratégia estará condicionada pela evolução de dados e informação técnica disponível. Não sabemos tudo sobre o inimigo - taxas de letalidade, imunidade natural, período de incubação ou que vacina o poderá neutralizar, etc. Mas sabemos que o vírus existe e temos à disposição um conjunto de mecanismos que permitem a definição de uma estratégia coerente e eficaz de combate. Afinal, o que é uma estratégia? Uma estratégia é, por definição, a coordenação de recursos limitados com vista à prossecução de um objetivo. Neste caso, a estratégia passará, necessariamente, por derrotar a COVID-19.

             Quais deverão ser, por conseguinte, os alicerces fundamentais de uma estratégia nacional para derrotar a Covid-19? Para ampliar as nossas hipóteses de sucesso, diria que a estratégia portuguesa deveria assentar em quatro pilares essenciais: incrementar a capacidade de resposta do Serviço Nacional de Saúde; delinear um plano que permita mitigar a destruição humana e material provocada pela pandemia; desenvolver um plano que não desvirtue os comportamentos sociais e que vise preservar uma sociedade com níveis de bem-estar iguais aos dos meses que precederam o surto e acreditar na ciência.
Desenvolvamos, sucintamente, cada um desses pilares.

             Primeiro, incrementar a capacidade de resposta do SNS será instrumental, decisiva para superar o vírus. Na ótica do professor Nuno Monteiro, da Universidade de Yale , em crónica no Expresso, este pilar é tão importante que é “incontroverso”. É fulcral que canalizemos recursos financeiros, materiais e humanos ao SNS e que procedamos à sua reorganização de forma a ampliar a sua capacidade de resposta, sem descurar, todavia, todas as outras necessidades de saúde dos cidadãos.

             Segundo, para mitigar os efeitos destrutivos do vírus, importa colocar a tónica em duas palavras: testar e detetar. Para tal, teremos de desenvolver a capacidade de testar todos os residentes nacionais. Testá-los quer porque poderá ser a única salvação de uma eventual sobrecarga no SNS quer porque a única maneira de manter uma sociedade funcional durante muito tempo, reside precisamente em saber, com exatidão, quem pode e não pode expor-se ao risco, quem pode e quem não pode colaborar no esforço nacional.
             Terceiro, o bem-estar social será da maior relevância no combate a este flagelo pandémico. Há que preservar a segurança do povo português custe o que custar. Chegámos a um ponto onde o rigor económico deve ser relegado para segundo plano. O que está em causa é a vida das pessoas. Encaremos todos os gastos futuros que o Governo Português faça na manutenção de negócios e empresas, não como uma despesa, mas sim como um investimento na sobrevivência da sociedade.
             Por último, há que acreditar na ciência e na visão dos especialistas. Há que acreditar na Direção Geral de Saúde. Há que acreditar nos especialistas, nos epidemiologistas. A ciência, com a sua natureza metódica, é o principal antídoto para o veneno das especulações e superstições. Sigamos as recomendações, fiquemos em casa, ajudemos os vulneráveis e ignoremos os discursos ocos daqueles que não se orientam pela verdade mas sim por um conjunto de  agendas e dogmas políticos. Neste aspeto, a política do Governo Português tem sido, a meu ver, exemplar. Agora, tudo dependerá do sentido cívico das populações.

             Em conclusão, fiquemo-nos com esta frase: “Tempos excecionais exigem medidas excecionais”. Apenas uma estratégia coerente e uma atitude de sacrifício do povo português permitirá suplantar este problema.



Terreiro do Paço, Lisboa


Obrigado pela atenção,

Miguel Carvalho

Sem comentários:

Enviar um comentário