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terça-feira, 14 de abril de 2020

O que é o tempo?

Muito boa noite, o artigo de hoje, autoria do Miguel Carvalho faz uma abordagem que nos fará questionarmos o que realmente sabemos acerca da coisa mais importante das nossas vidas, o tempo. Esperemos que gostem.


O que é o tempo? Será o tempo um fenómeno real? 

Uma abordagem física do “tempo”


As primeiras medições do tempo eram a consequência de observações dos ciclos do mundo natural, das transições ocorridas do dia para a noite e de estação para estação. Estas medições foram de nuclear importância para o advento da construção de calendários.
Com o dealbar dos séculos, surgiram novas invenções que permitiram sistemas de medição precisa do tempo, como os relógios de sol ou os relógios mecânicos.
Não obstante, cumpre colocar algumas questões: o que é que estamos a medir exatamente? Será o tempo uma ilusão ou será um componente inextricavelmente ligado à nossa realidade?



Será que o tempo existe? Ou será uma mera construção mental humana? Numa primeira instância, a resposta parece ser óbvia. Claro que o tempo existe. É uma parte integral da nossa vida. É o responsável pela evolução física e intelectual de cada um de nós na nossa breve estadia no planeta Terra. É uma constante da realidade, imanente ao próprio funcionamento do Universo. Sem o tempo, é difícil não só imaginar como refletir sobre o desenvolvimento da existência.

A convicção do tempo enquanto fenómeno absoluto esteve fortemente arreigada no pensamento de grandes intelectuais da Idade Moderna. Depois... bem, depois surgiu Einstein com a sua Teoria Geral da Relatividade.


O que esta teoria preconiza é que o tempo passa para todos, mas a perceção que temos dessa passagem é variável consoante a situação subjetiva em que nos encontramos, como viajar próximo da velocidade da luz ou orbitar um buraco negro colossal. Einstein resolveu esta maleabilidade do tempo, combinando-o com o espaço, dando origem ao espaço-tempo. Esta Teoria parecia confirmar que o próprio tempo está tecido, inscrito, inserido na estrutura fundamental do Universo.

Mas existe uma questão que o seu génio não conseguiu resolver: se o tempo faz parte do tecido do Cosmos, porque é que conseguimos mover-nos no espaço em qualquer direção, mas no tempo somente numa orientação?

Não obstante os nossos projetos profissionais, os nossos desgostos académicos ou agruras amorosas, seja o que for que façamos, sabemos que o tempo passado está, teimosamente, atrás de nós. É irrecuperável. Isto chama-se “a flecha do tempo”.

Quando uma gota de tinta cai num copo de água sabemos, por instinto , que a tinta preencherá o copo. Imaginem o oposto. Veriam o tempo a desdobrar-se para trás . Vivemos num universo onde a gota de tinta se difunde na água e não num onde esta se reúne de novo.



Em Física, isto é descrito pela Segunda Lei da Termodinâmica. Os sistemas do nosso universo orientam-se da ordem para a desordem. É essa propriedade do universo que define a direção da flecha do tempo. Um dos grandes desideratos e objetivos da Física nos últimos 50 anos tem sido a conjugação da relatividade geral com a mecânica quântica numa grande “Teoria de tudo”. Umas das propostas, chamada equação de Wheeler-DeWitt  nem sequer inclui o tempo. Posto isto, será o tempo uma mera ilusão desencadeada pelas nossas limitações na forma como percecionamos o Universo? Simplesmente não o sabemos.

Talvez o tempo não seja uma propriedade fundamental mas antes uma propriedade emergente. Propriedades emergentes são coisas que não existem em pedaços individuais de um sistema, mas existem para o sistema como um todo. Um filme, por exemplo, cria mudanças através do tempo ao usar uma série de imagens imóveis que parecem ter uma transição contínua e fluída entre elas. Ao deslizarmos pelas imagens suficientemente depressa, o nosso cérebro vê a passagem do tempo
a partir da sequência de imagens imóveis. O movimento é real, mas é também uma ilusão.



















Pode a física do tempo ser, de algum modo, uma ilusão parecida? Os físicos continuam à procura por uma explicação completa. Pode ser que no futuro consigamos conhecer os mecanismos subjacentes à realidade do tempo. Mas, ainda estamos longe de o alcançar. Pelo menos, por agora.

Muito obrigado,

Miguel Carvalho 

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