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sexta-feira, 1 de maio de 2020

Conseguirá uma máquina “pensar”? - Teste de Turing

O que é a consciência? 
Conseguirá uma máquina pensar, na aceção humana deste verbo? 
Será o espírito consubstanciado por um conjunto de neurónios no cérebro ou existirá alguma centelha inatingível no seu núcleo?


Para uma miríade de investigadores , estas considerações são vitais, nevrálgicas para o futuro da inteligência artificial. Alan Turing, cientista britânico do século XX, decidiu ignorar todas estas questões e colocar a tónica numa questão muito mais simples: pode um computador conversar como um ser humano?

Subjacente ao célebre Teste de Turing estaria esta ideia, esta questão.
Num artigo de 1950, "Computadores e inteligência", Turing propôs o seguinte jogo: um “juiz” ou “árbitro” humano troca mensagens de texto com jogadores invisíveis e avalia as respetivas respostas. Este jogo passaria a ser também aplicável aos computadores. 

Para passar no teste, um computador tem de substituir um dos jogadores sem alterar os resultados de forma substancial. Por inerência, um computador seria considerado inteligente se a sua conversa fosse similar à da de um ser humano.



Turing tinha um vaticínio interessante: por volta de 2000, as máquinas com 100 MB de memória passariam facilmente neste teste. Talvez se tenha precipitado.
Sem embargo da significativamente superior capacidade de memória dos computadores atuais, muito poucos lograram êxito no Teste de Turing.

 A maior parte concentrou-se, inclusivamente, em encontrar mecanismos ardilosos, sub-reptícios, astuciosos com vista a enganar os juízes, ao invés de utilizar a sua fenomenal capacidade de cálculo.

Sem prejuízo de nunca ter sido sujeito a um verdadeiro teste, o primeiro programa com algum êxito foi o ELIZA. Apenas com um código simples e curto, conseguiu enganar muitas pessoas passando-se por um psicólogo, incentivando-as a desabafar e ripostando as questões que lhe eram colocadas.
Outro precursor, PARRY, privilegiou uma abordagem um tanto diferente e antagónica, imitando um esquizofrénico paranoico. A sua conversa ancorar-se-ia essencialmente nas suas obsessões pré-programadas.


O sucesso de ELIZA E PARRY acabou por enfatizar, reforçar a fraqueza e falibilidade do teste de Turing. Com efeito, a definição humana de inteligência é incrivelmente ampla. Classificamos uma panóplia de coisas como inteligentes embora não o sejam. Os seres humanos classificam de inteligência toda uma série de coisas cuja inteligência não só é inexistente como inexequível.

Não obstante, competições anuais, como o Prémio Loebner, têm vindo a tornar este teste mais formal e acurado nas suas previsões.
Os juízes conhecem antecipadamente que alguns dos seus interlocutores são máquinas. Embora a qualidade tenha melhorado muitos programadores de robôs privilegiaram estratégias similares às de ELIZA e de PARRY.
Catherine, o vencedor de 1997, conseguia manter uma conversa espantosa e inteligente, mas somente quando o juiz falava de Bill Clinton , 42º presidente dos Estados Unidos.


Um dos robôs mais impressivos a superar o teste nos tempos recentes, Eugene Goostman, encarnava a personalidade de um rapaz ucraniano de 13 anos. O seu inglês era um tanto enferrujado, por inerência de todas as barreiras linguísticas e culturais que separam a Ucrânia dos EUA.

Outros programas, como o Cleverbot, adotaram uma abordagem diferente, analisando estatisticamente enormes bases de dados de conversas reais para aferir as melhores respostas. Alguns armazenam memórias de conversas anteriores, para incrementarem as suas capacidades com o tempo.
Embora as respostas individuais do Cleverbot pareçam fidedignamente humanas, este carece de uma personalidade consistente. É, em concomitância, incapaz de lidar com tópicos totalmente novos e é, por conseguinte, facilmente desmascarado.

Não obstante a presente falibilidade dos programas, progressos exponenciais têm vindo a ser feitos ao longo dos decénios. Quem, na época de Turing, poderia prever que os computadores de hoje seriam capazes de pilotar naves espaciais, realizar, cabalmente,  cirurgias delicadas, resolver equações de elevada complexidade, mas revelar inequívocas dificuldades em conversar sobre assuntos básicos do dia a dia?

Sucede que a linguagem humana é o espelho da própria natureza humana. É um fenómeno que nos é imanente, altamente complexo, que nem sequer pode ser captado pelo maior dicionário.

Um robô pode ficar atordoado e confuso perante pausas simples, como "hum..." ou perguntas sem respostas certas. E uma frase simples como: "Tirei o sumo do frigorífico e bebi-o mas esqueci-me de ver o prazo de validade", exige uma multiplicidade de conhecimentos inerentes e intuição para ser analisada.

Acontece que, para simular uma conversa humana, é necessário muito mais do que aumentar a memória ou a potência de cálculo. À medida que nos aproximamos do objetivo de Turing, teremos que continuar a perscrutar pelas questões mais profundas da consciência.

Obrigado,
Miguel Carvalho


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