Numa era marcada pela eclosão de várias aplicações móveis para o rastreamento de dados pessoais com via a conter a evolução da pandemia, cumpre, não obstante, questionar a eticidade dessas mesmas ferramentas. Quais são, afinal, os riscos que corremos?
Cientistas, governos e especialistas encontram-se numa luta contra o tempo. Várias linhas de atuação estão em cima da mesa. Uma das alternativas que tem vindo a ganhar destaque no panorama internacional concerna o aproveitamento da tecnologia disponível e subsequente desenvolvimento de apps de rastreio da COVID-19.
Isto levanta, naturalmente, uma questão: Estaremos a usar a tecnologia com prudência e sensatez ou a criar uma cortina de fumo sem precedentes, alicerçada numa pandemia global, com efeitos potencialmente devastadores na nossa privacidade?
Todas as autoridades de saúde têm seguido uma premissa nuclear: os indivíduos que tenham contacto direto com alguém infetado, exponenciam o risco de adoecer. Como tal, a ideia por trás do “contact tracing” (técnica que envolve encontrar cada pessoa infetada e aferir com quem interagiu durante esse período de tempo) é simples, mas a sua execução deixa algo a desejar.
O processo é moroso e lento: alguém fica doente; é entrevistado pelas autoridades de saúde pública e o seu percurso e contactos são mapeados; é feita uma lista de pessoas com quem esteve em contacto e pede-se-lhes que permaneçam em casa atentem no percurso evolutivo dos sintomas; se uma das pessoas exposta estiver infetada, os seus contactos também serão rastreados e assim sucessivamente até que todos os possíveis infetados com o vírus estejam fora de circulação.
Não obstante, com o número de infetados ao nível mundial a ultrapassar os 4 milhões, é desafiante, e potencialmente inexequível, dispor dos recursos e do tempo necessário para continuar a seguir a estratégia de “contact tracing”.
Enquanto governos e cientistas continuam numa correria contra o tempo para encontrar uma resposta urgente para este surto, alguns especialistas começaram a tirar partido dos avanços tecnológicos para agilizar o processo, com recurso quer a ferramentas e apps de telemóveis para identificar e monitorizar as pessoas que possam ter sido expostas ao vírus quer à construção de apps que facilitem o rastreamento das pessoas infetadas. Estes desenvolvimentos têm eclodido um pouco por todo o mundo tecnologicamente desenvolvido, desde a China passando pela Singapura até ao Reino Unido, entre muitas outras nações associadas.
Em concomitância, a Apple e a Google anunciaram que vão congregar esforços no desenvolvimento e distribuição de uma tecnologia de monitorização de telemóveis. Permitirá rastrear a cadeia de possíveis infetados pela COVID-19. Ao invés de recorrer a sistemas de geolocalização (GPS), preconiza-se o recurso à tecnologia Bluetooth, wireless.
Um progresso significativo está subjacente a estes eventuais desenvolvimentos: a criação de apps para travar a propagação do Covid-19, sem que a localização dos utilizadores fosse guardada. Segundo advogam as gigantes tecnológicas, a tecnologia Bluetooth permitirá a salvaguarda da privacidade dos utilizadores por inerência de recorrer a uma ligação por radiofrequência , conectável a aparelhos que estejam a curta distância (alguns metros).
A Apple e a Google vaticinam que esta tecnologia esteja disponível para uso em aplicações ainda a partir do mês corrente de maio.
Obrigado,
Miguel Carvalho
Sem comentários:
Enviar um comentário